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Doutrina

Corro sem parar Não tenho onde me esconder Hóstia, água, cruz Tudo me persegue E nem vampiro eu sou Corro sem parar Não tenho onde me esconder Energia, luz, mantra Tudo me persegue E nem fantasma eu sou Corro sem parar Não tenho onde me esconder Pentagrama, feitiço, maldição Tudo me persegue E nem santo eu sou Corro sem parar Não tenho onde me encontrar, eles dizem Julgamentos, moral, hermenêutica Tudo me mira E nem cidadão eu quero ser

Danação

- Qual controle que te controla? - disse Deus ao Querubim. - Ora, ora. Se eu respondo essa pergunta, o controle é você, enfim. - Pensando assim, não responder também é consequência de minha ordem. - Tem razão. Mas se Deus ainda tem dúvidas, qual controle ele realmente tem na mão? - O controle que me controla nunca foi a questão, já que sua atitude está sendo averiguada para perdão. - Compreendo, meu todo poderoso. Só me incomoda sua aparente falsidade, já que seu lema sempre foi a liberdade. - Você é livre e sempre foi. Fazendo suas próprias escolhas assim como o fazendeiro escolhe controlar o boi. - O boi controla livremente seu descontrole, sendo controlado por um ser tão perdido e humano, que a liberdade se torna uma mera questão de engano. - Seu pecado é justamente o descontrole perante a humanidade. Se sabe tanto de controle, por que não controlou a cidade? - Minhas intenções foram, infelizmente, sabotadas, pois no fim das contas, minhas decisões estavam sendo

frustração farmacológica ou onde eu vim parar

Você nada no concreto As pedras machucam Mas todas as pedras machucam Você quer chorar Mas por qual pedra chorar Se todas machucam? Um gato que se enrola no novelo favorito Grita no espaço claustrofóbico que não cabe o som E pede a misericórdia final de deuses que não existem. Ah, quem me dera se o fogo queimasse Quem me dera se as alucinações fossem reais Quem me dera ser quem eu sou

Garrafa fora do barquinho

Nasci aqui. Nessa garrafa. Dentro desse barquinho. Através do vidro que limita minha liberdade, eu posso ver tudo. Todas as coisas. Tudo menos o que eu sou. Tudo menos o que me tornei. Às vezes eu desejo que esta imensidão de vidro transparente se torne espelhada. O que eu me tornei? Não sei se nasci mesmo aqui. Talvez eu tenha entrado, e já não sei como sair. Já vi muita admiração em torno de mim e do artesanato que me cerca. Perguntam como isso foi construído aqui dentro. Será que o artista constrói o barco com pequenos palitinhos dentro da garrafa? Será que a garrafa é feita por cima da pequena embarcação já pronta? Por que isso interessa? O barco está pronto. Não é isso que vocês queriam?         Joguem esta garrafa no mar. Ela vai se encher de água e afundar. Mesmo que tenha um barco dentro dela. Mesmo que tenha uma pessoa dentro dela. Perdida e observadora, que não faz ideia de como sair desta bela armadilha. Quebrem esta garrafa, já que eu não consigo. Não há nada aqui além

sem título #1

Um copo de café manipula o tempo. Passa mais rápido ou mais devagar, se dobra à vontade da bebida como se fosse tão fluído quanto as nossas vontades. E é. Talvez um copo de vontade seja menor que o de café E por isso não faz efeito por si só. Tanta coisa passando pela máquina, sendo triturada, escorrendo. Acho que eu preciso de um copo de tempo.

Notas

A banda se posicionou. Todos sabem o que fazer quando o Sol nasce, nos dias 10 de cada mês. O violinista, cansado, tocou a noite toda com seus amigos em um bar. Acordou cedo, tomou um café forte e foi pra labuta. Sua esposa, tocou uma nota doce em sua flauta e o beijou. Ele tenta se concentrar em seu trabalho, e cumprimenta seus amigos com notas desafinadas que escancaram sua exaustão. Porém, chegou a hora. O desfile começou, junto com o nascer do dia, e o maestro apareceu. Todos que assistiam, tocavam seus instrumentos. A banda também. Notas desagradáveis, pensava o violinista. Durante o desfile, como de costume, a banda passa em frente aos bairros dos mudos, que fitam  a banda oficial, em silêncio. O violinista vê uma criança gritando, e sua mãe o repreende. Esta cena impressiona o violinista. Há pouco tempo, viu na internet, guitarristas e bateristas que tocavam músicas agressivas com a foto do maestro em destaque. Depois, tocaram uma balada triste, enquanto fotos de mudos aparecia